Transporte-se para um planeta imaginário onde existam motoristas despreparados, sem a mínima noção de cidadania, alguns até mesmo irracionais. Agora, coloque um desses motoristas parado com o seu carro (já engrenado) em um sinal de trânsito (semáforo) e desesperado para “dar a largada” e continuar sua viagem interrompida por "pedestres inconvenientes" que estão atravessando na faixa destinada a eles (os pedestres).
Imagine a cena na qual o olhar raivoso do dito motorista parece
lançar faíscas de ódio; de sua boca com seus dentes cerrados escorre uma baba
estranha e suas mãos agarradas com força ao volante parecem capazes de quebrar
a peça. Insira nessa cena, o rugido do motor, propositadamente, feito pelo motorista
para criar um verdadeiro cenário de terror! Tudo isso, enquanto, desesperados,
os pedestres atravessam a rua.
Coloque agora nesse grupo de pedestres, uma senhora linda com seus
75 anos que divide com os outros pedestres o desafio de atravessar a rua em
tempo hábil, considerando que o tempo do sinal de trânsito não é favorável a
ela. Isso mesmo; ela pode estar no meio de sua travessia e o sinal liberar o
trânsito para os motoristas!
“Uau! Uma velhinha!”. Em um cálculo simples de S=VxT, o motorista mede
a distância, considerando todas as variáveis e já sabe qual a velocidade
imprimir para poder atropelá-la. No momento da largada, enquanto avança
acelerando seu carro, pressiona a sua buzina chamando a atenção de todos para
assistir a cena! Não tenha dúvidas, o dito motorista somente prosseguiu
viagem depois que o sinal de trânsito assim permitiu!
Azar da "velhinha", não é mesmo!?
Ainda bem que todo este exercício é fruto de minha imaginação e
tal cena seria impossível de acontecer nas principais vias brasileiras.
O fato é que todos os cálculos usados para determinar o tempo de
um semáforo não consideram, em sua maioria, o tempo de travessia na velocidade
média do andar de um idoso!
Em São Paulo, o intervalo entre o abrir e o fechar a passagem do
pedestre é calculado considerando a velocidade de um transeunte que caminhe a
uma velocidade de 1,2 metro por segundo. Trabalhos realizados mostram que a
velocidade média de um idoso é de 0,75 metro por segundo. É uma tragédia
anunciada!
Estamos falando da maior cidade brasileira, mas sabemos que em
outras cidades a velocidade de travessia nem é considerada, valendo no cálculo
outras variáveis como fluxo de veículos, horário do “rush”, entre outros.
Ainda temos de fazer muito em termos de mobilidade urbana. Por
enquanto, pelo menos, sabemos qual o tempo ideal para atropelar um idoso
atravessando o sinal...
Carlos Santarem
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